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NEGÓCIOS E ECONOMIA

12/04/2021

Setor da saúde garante que esta indústria pode ser um dos motores da recuperação econômica [Portugal]

Cluster da saúde apresenta esta sexta-feira ao ministro da Economia um plano para impulsionar o sector. Objetivo é, até 2030, alcançar um valor acrescentado bruto de 2,6 mil milhões de euros anuais e um volume anual de exportações de 5 mil milhões de euros

A Health Cluster Portugal (HCP) – associação que reúne universidades e instituições de investigação e desenvolvimento (I&D), hospitais, organizações da sociedade civil e empresas do sector da saúde – vai apresentar esta sexta-feira aos associados e ao ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, um conjunto de propostas para fortalecer o cluster da saúde em Portugal até 2030.

O Plano de Desenvolvimento da Saúde, a que o Expresso teve acesso, surge no contexto da atual crise provocada pela pandemia de covid-19. E leva em consideração o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) do Governo português para 2021-2026, olhando “para a saúde como um todo (cluster), desde a valorização do conhecimento até às áreas mais de ponta, como os medicamentos inovadores e a smart health (tecnologias inovadoras na saúde)”, explica ao Expresso Joaquim Cunha, diretor executivo do HCP.

De acordo com a proposta, o desenvolvimento das indústrias da saúde em Portugal deve passar por seis áreas de aposta, “que se enquadram nas oportunidades existentes ao longo das suas cadeias de valor”: valorização do conhecimento, ensaios clínicos, medicamentos essenciais, dispositivos médicos e, à cabeça, medicamentos inovadores e smart health.

Concretamente, são apresentadas 15 iniciativas dirigidas a estas seis áreas, totalizando um investimento entre 2,5 e 3,5 mil milhões de euros. E com uma ambição: alcançar em 2030 um valor acrescentado bruto (VAB) de 2,6 mil milhões de euros anuais, um volume anual de exportações de 5 mil milhões de euros e um nível de emprego industrial de 35 mil trabalhadores, na maioria emprego qualificado e muito qualificado. Além disso, pretende-se atingir mil milhões de euros em investimento anual em I&D, dos quais dois terços com origem no sector empresarial e um terço no sector não empresarial.

Estas integram o Pacto Saúde + Valor 5.0, uma revisão ao compromisso assumido entre o HCP e o Ministério da Economia, em março de 2019, para liderar o cluster da saúde.

O ELEFANTE NA SALA

O Plano de Desenvolvimento da Saúde propõe não só “potenciar a valorização comercial da investigação científica” como “fomentar a atratividade de Portugal como destino para a realização de ensaios clínicos” e “estimular as capacidades existentes para aumentar a diferenciação e inovação incremental” ao nível dos medicamentos essenciais. Já no que diz respeito aos dispositivos médicos, por exemplo, sugere-se trazer para a saúde indústrias adjacentes, como a dos têxteis e a dos moldes e plásticos.

“No documento há um elefante na sala: o investimento direto estrangeiro (IDE). Se queremos dar um salto forte, temos que atrair IDE. Só com a prata da casa não vamos lá”, realça Joaquim Cunha, acrescentando que os medicamentos inovadores são uma aposta nesse sentido. “Temos de estar em alguma das fases da cadeia de valor dos medicamentos inovadores”, diz, referindo que a Bial já abriu caminho para outras empresas que – como a Hovione, a Bluepharma e a Tecnimede – estão agora a percorrê-lo.

Outra forma de colocar Portugal no mapa da inovação em saúde passa por criar “um ecossistema amigo das startups, nacionais e estrangeiras, e federar as incubadoras do sector para tornar Portugal uma grande incubadora de saúde”.

Já a smart health “é a estrela da companhia” e uma área na qual “Portugal pode vir a estar no pelotão da frente”, uma vez que “o mundo inteiro ainda está na linha de partida”. Neste âmbito, propõe-se desenvolver projetos de investimento para criar soluções disruptivas e a criação de um Organismo Notificado em Smart Health — como manda a nova diretiva europeia dos dispositivos médicos, que diz que “para que um produto entre no mercado precisa de ter a marca da Comissão Europeia e ser aprovado por um organismo notificado, independente do regulador”, neste caso o Infarmed.

Regulador que, segundo o documento, deve dar um salto 5.0, criando um quadro regulatório mais favorável à competitividade e inovação industrial.

MAIS ECONOMIA NA SAÚDE

As indústrias da saúde em Portugal têm sido um dos principais motores da economia nacional, tendo crescido 150% na última década.

São as que têm o maior investimento em I&D (117 milhões de euros em 2018), as que geram mais emprego qualificado (45%) e valor acrescentado bruto (76 milhões de euros) nas indústrias transformadoras em Portugal. De acordo com dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), tendo como fonte o Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações em saúde cresceram no ano passado 11,11% para 1749 milhões de euros.

Mas as indústrias da saúde continuam a ter um peso muito pouco expressivo na economia nacional (3% do VAB), quando comparadas com outros países da União Europeia.

“Ainda não conseguimos dar este salto transformador na valorização e conhecimento”, explica o diretor executivo do HCP. “Portugal tem hoje mais I&D, mas isso não se traduz necessariamente em mais produtos e serviços. Na verdade, este é um problema da Europa: somos melhores a investigar que os Estados Unidos, mas eles ganham-nos em produtos e serviços. A investigação ainda fica muito no papel.”

Para que esse salto transformador aconteça, é não só preciso seguir as já referidas propostas do plano, acredita o HCP, como também ativar um conjunto de facilitadores-chave: fomentar a qualidade da regulação (estratégica, exigente e focada no longo prazo), reduzir custos de contexto (atrasos nos pagamentos, custos regulamentares, entre outros), criar apoios especializados para as indústria da saúde (como fundos de capital de risco) e mecanismos de ação (como consórcios e joint ventures para finalidades específicas), integrar as várias áreas e dar uma maior tutela económica à saúde, impedindo que a definição e tabelas de preços estejam centralizadas no ministério da Saúde, “cuja preocupação principal está nas poupanças”.

“Por vezes, olhamos para a saúde muito no curto prazo, como despesa, um problema do ministério das Finanças que o ministério da Saúde tem que gerir. E esquecemo-nos que a saúde exporta, gera emprego e riqueza”, evidencia Joaquim Cunha. “É preciso um equilíbrio entre a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde e a competitividade dos clusters da saúde.” A balança está desequilibrada para o lado do primeiro prato. “Precisamos de mais economia na saúde e que a tutela não seja apenas o ministério da Saúde.”

Fonte: Expresso

 



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